O Crocodilo-caracol
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Era uma vez,
um crocodilinho bem pequeno, que vivia num pântano, lá no Pantanal Mato-grossense.
Como todo
filhote, também era curioso e vivia bisbilhotando por lá.
Ele era
desassossegado. Gostava de sair para ver os amigos e passear pelo pântano, em
busca de novas aventuras.
Mas ele não
saía sozinho, porque tinha muitos amigos que gostavam dele, por isso sempre
tinha a companhia de alguém.
Certo dia,
ele resolveu sair sozinho para passear e quando já estava quase chegando no
rio, avistou uma coisa estranha. Curioso, chegou perto para ver o que era
aquilo. Observou que parecia ser uma concha. A coisa era bem redondinha,
diferente e ele ainda não tinha visto por ali.
Então começou a mexer nela. Como era redondinha, escorregava e rolava daqui
e dali.
Empurrou-a
com o rabo, até que ela foi parar bem nas suas costas. Ficou estranho, um
crocodilo daquele tamanho, com uma concha
pequena nas costas.
Ele saiu
andando bem devagarinho, para que a concha não caísse de suas costas.
Por onde
passava, os bichos achavam engraçado aquela cena e zombavam dele:
__ Olha o
crocodilo-caracol!
__ Olha o
caracol-crocodilo!
E riam, riam...
Ele nem
ligou para os bichos. Seu primo jacaré quis saber:
__ Primo
crocodilo, onde você encontrou essa concha?
__ Encontrei
na beira do rio, agora é minha.
__ Mas e se
aparecer o dono dela?
__ Não
devolvo! Achado não é roubado!
E dizendo
isso, saiu para o pântano.
No outro
dia, o crocodilo resolveu dar mais uma volta pelos arredores do pântano. Chegando lá, viu
uma multidão de bichos reunidos. Mas que confusão seria aquela?
Chegou bem
perto e ficou ouvindo o assunto. Escutou um lamento:
__ Ai, ai,
ai, onde será que está minha casinha? Chorou o caracol.
__ Mas como
é a sua casinha? Perguntou o tatuzinho.
__ Ela é bem
pequena!
__ Mas como
assim? Perguntou a sapa.
__ Pequena e
redonda! E chorou de novo.
__ Mas como
o senhor perdeu a sua casa? Perguntou a cutia.
__ Eu saí para
tomar um banho no rio. Retirei-me dela e entrei na água. Como ela estava tão
boa, fiquei lá um tempo maior que o de costume. Acho que até cochilei dentro d’água.
Quando saí, já não a encontrei mais.
O crocodilo,
que ouvira tudo, egoísta como ele só, saiu de fininho e foi embora depressinha!
__ E agora
caracol, como você vai fazer sem casa para morar? Perguntou a rã.
__ Eu não
sei, sem minha casa, fico desprotegido do calor, do frio, com medo, corro
perigo de ser atropelado e de morrer.
E o caracol
chorou, chorou, chorou tanto que por onde passava, ficava um rastro molhado
dele.
__ Será que alguém
não encontrou a sua casa? Disse a capivara.
__ Mas quem
poderia tê-la encontrado?
__ Vamos
investigar! Disse o tatuzinho.
E saíram
todos procurando a casa do caracol, cada um por um lado.
Procuraram o
dia todo e nada. Foi aí que a capivara se lembrou de ter visto o crocodilo
andando por lá e disse:
__ Já sei
onde procurar a concha do caracol.
Foi até o
pântano e chamou o senhor crocodilo:
__ Senhor
crocodilo! Senhor crocodilo!
__ Mas que
gritaria é essa, dona capivara?
__ Senhor
crocodilo, preciso falar com seu filho, crocodilinho. Ele está?
__ Está sim,
mas não quer receber ninguém. Disse que está doente, com dor de cabeça e dores
nas costas.
__ Mas eu
preciso falar com ele.
__ Está bem,
pode ir até aquela folha de palmeira lá
na beira do pântano, que você vai encontrá-lo.
A capivara
chegou bem devagar, para não assustar crocodilinho...
__ Oi
crocodilinho! Tudo bem com você?
__ O que faz
aqui, capivara? Vá embora que não quero ver ninguém.
__ Tudo bem,
amigo. Vou me embora depois de conversar com você sobre uma certa concha de caracol, que andava exibindo nas costas, outro
dia. Onde ele está?
__ Não vou
lhe mostrar. Ela é minha. Fui eu quem a achei. Achado não é roubado!
__ Está
certo, amigo. Ela é sua agora. Mas você sabe quem a perdeu?
__ Não sei e
não quero saber!
__Mas olha,
amigo. O que você faria se uma grande tempestade viesse, provocasse uma
enchente bem grande nesse rio e você e sua família ficasse sem lugar para
morar?
__ Não sei.
Seria terrível, perder meu lugar de viver.
__ Pois é, o
senhor caracol está muito triste, porque foi tomar banho no rio, deixou sua
casa na areia e quando voltou, não a encontrou. Está inconsolável, chorando de
medo. Por que a concha é o seu abrigo das chuvas, do vento, do calor, do frio,
dos predadores. Então, que tal ir lá para devolvê-la? Quando se encontra alguma
coisa e o dono aparece, é preciso devolver, pois pode fazer muita falta a quem
perdeu.
O crocodilo,
meio sem graça, pôs a concha nas costas e
foi com a capivara devolvê-la ao caracol.
__ Senhor
caracol!!! Tenho uma surpresinha para o senhor!!! Gritou a capivara.
Quando ele
saiu de trás da folha, foi aquela surpresa! Não sabia se chorava ou se ria.
__ Oh,
amigos, quanta satisfação receber de volta a minha linda casinha!
E entrou na
concha, dizendo:
__ Ah!!!
Lar, doce lar!!! Não há nada mais gostoso que a casa da gente! Obrigada,
amigos, por me devolverem a minha casinha!
Então o
crocodilo disse:
__ Me
desculpe, caracol, eu não sabia que a concha era sua! Eu achei tão legal andar
com ela nas costas, que fiquei egoísta e não queria devolvê-la.
__ Está tudo
bem amigo!
Quando o
crocodilinho ía saindo, o caracol o chamou:
__ Espere,
amigo! Vamos fazer um trato assim: Quando você quiser sair com a concha nas
costas, eu deixo, mas vou junto, porque assim aproveito para passear e sair mais
rápido de um lugar para outro. Afinal ando tão devagar, que uma caroninha nas
suas costas, não seria nada mal!
Foi assim
que surgiu uma nova amizade entre o crocodilo e o caracol. Agora, sempre se
podiam ver o crocodilo-caracol andando por aí!
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