domingo, 27 de janeiro de 2019

O Crocodilo-caracol


O Crocodilo-caracol


            Era uma vez, um crocodilinho bem pequeno, que vivia num pântano, lá no Pantanal Mato-grossense.
            Como todo filhote, também era curioso e vivia bisbilhotando por lá.
            Ele era desassossegado. Gostava de sair para ver os amigos e passear pelo pântano, em busca de novas aventuras.
            Mas ele não saía sozinho, porque tinha muitos amigos que gostavam dele, por isso sempre tinha a companhia de alguém.
            Certo dia, ele resolveu sair sozinho para passear e quando já estava quase chegando no rio, avistou uma coisa estranha. Curioso, chegou perto para ver o que era aquilo. Observou que parecia ser uma concha. A coisa era bem redondinha, diferente e ele ainda não tinha visto por ali.  Então começou a mexer nela. Como era redondinha, escorregava e rolava daqui e dali.
            Empurrou-a com o rabo, até que ela foi parar bem nas suas costas. Ficou estranho, um crocodilo daquele tamanho, com uma concha  pequena  nas costas.
            Ele saiu andando bem devagarinho, para que a concha não caísse de suas costas.
            Por onde passava, os bichos achavam engraçado aquela cena e zombavam dele:
            __ Olha o crocodilo-caracol!
            __ Olha o caracol-crocodilo!
            E riam, riam...
            Ele nem ligou para os bichos. Seu primo jacaré quis saber:
            __ Primo crocodilo, onde você encontrou essa concha?
            __ Encontrei na beira do rio, agora é minha.
            __ Mas e se aparecer o dono dela?
            __ Não devolvo! Achado não é roubado!
            E dizendo isso, saiu para o pântano.
            No outro dia, o crocodilo resolveu dar mais uma volta  pelos arredores do pântano. Chegando lá, viu uma multidão de bichos reunidos. Mas que confusão seria aquela?
            Chegou bem perto e ficou ouvindo o assunto. Escutou um lamento:
            __ Ai, ai, ai, onde será que está minha casinha? Chorou o caracol.
            __ Mas como é a sua casinha? Perguntou o tatuzinho.
            __ Ela é bem pequena!
            __ Mas como assim? Perguntou a sapa.
            __ Pequena e redonda! E  chorou de novo.
            __ Mas como o senhor perdeu a sua casa? Perguntou a cutia.
            __ Eu saí para tomar um banho no rio. Retirei-me dela e entrei na água. Como ela estava tão boa, fiquei lá um tempo maior que o de costume. Acho que até cochilei dentro d’água. Quando saí, já não a encontrei mais.
            O crocodilo, que ouvira tudo, egoísta como ele só, saiu de fininho e foi  embora depressinha!
            __ E agora caracol, como você vai fazer sem casa para morar? Perguntou a rã.
            __ Eu não sei, sem minha casa, fico desprotegido do calor, do frio, com medo, corro perigo de ser atropelado e de morrer.
            E o caracol chorou, chorou, chorou tanto que por onde passava, ficava um rastro molhado dele.
            __ Será que alguém não encontrou a sua casa? Disse a capivara.
            __ Mas quem poderia tê-la encontrado?
            __ Vamos investigar! Disse o tatuzinho.
            E saíram todos procurando a casa do caracol, cada um por um lado.
            Procuraram o dia todo e nada. Foi aí que a capivara se lembrou de ter visto o crocodilo andando por lá e disse:
            __ Já sei onde procurar a concha do caracol.
            Foi até o pântano e chamou o senhor crocodilo:
            __ Senhor crocodilo! Senhor crocodilo!
            __ Mas que gritaria é essa, dona capivara?
            __ Senhor crocodilo, preciso falar com seu filho, crocodilinho. Ele está?
            __ Está sim, mas não quer receber ninguém. Disse que está doente, com dor de cabeça e dores nas costas.
            __ Mas eu preciso falar com ele.        
            __ Está bem, pode ir até aquela folha de palmeira  lá na beira do pântano, que você vai encontrá-lo.
            A capivara chegou bem devagar, para não assustar crocodilinho...
            __ Oi crocodilinho! Tudo bem com você?
            __ O que faz aqui, capivara? Vá embora que não quero ver ninguém.
            __ Tudo bem, amigo. Vou me embora depois de conversar com você sobre uma certa concha de  caracol, que andava exibindo nas costas, outro dia. Onde ele está?
            __ Não vou lhe mostrar. Ela é minha. Fui eu quem a achei. Achado não é roubado!
            __ Está certo, amigo. Ela é sua agora. Mas você sabe quem a perdeu?
            __ Não sei e não quero saber!
            __Mas olha, amigo. O que você faria se uma grande tempestade viesse, provocasse uma enchente bem grande nesse rio e você e sua família ficasse sem lugar para morar?
            __ Não sei. Seria terrível, perder meu lugar de viver.
            __ Pois é, o senhor caracol está muito triste, porque foi tomar banho no rio, deixou sua casa na areia e quando voltou, não a encontrou. Está inconsolável, chorando de medo. Por que a concha é o seu abrigo das chuvas, do vento, do calor, do frio, dos predadores. Então, que tal ir lá para devolvê-la? Quando se encontra alguma coisa e o dono aparece, é preciso devolver, pois pode fazer muita falta a quem perdeu.
            O crocodilo, meio sem graça,  pôs a concha nas costas e foi com a capivara devolvê-la ao caracol.
            __ Senhor caracol!!! Tenho uma surpresinha para o senhor!!! Gritou a capivara.
            Quando ele saiu de trás da folha, foi aquela surpresa! Não sabia se chorava ou se ria.
            __ Oh, amigos, quanta satisfação receber de volta a minha linda casinha!
            E entrou na concha, dizendo:
            __ Ah!!! Lar, doce lar!!! Não há nada mais gostoso que a casa da gente! Obrigada, amigos, por me devolverem a minha casinha!
            Então o crocodilo disse:
            __ Me desculpe, caracol, eu não sabia que a concha era sua! Eu achei tão legal andar com ela nas costas, que fiquei egoísta e não queria devolvê-la.
            __ Está tudo bem amigo!
            Quando o crocodilinho ía saindo, o caracol o chamou:
            __ Espere, amigo! Vamos fazer um trato assim: Quando você quiser sair com a concha nas costas, eu deixo, mas vou junto, porque assim aproveito para passear e sair mais rápido de um lugar para outro. Afinal ando tão devagar, que uma caroninha nas suas costas, não seria nada mal!
            Foi assim que surgiu uma nova amizade entre o crocodilo e o caracol. Agora, sempre se podiam ver o crocodilo-caracol andando por aí!

                                          Crocodilo e tartaruga amáveis com caracol











       
             

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