domingo, 27 de janeiro de 2019

A árvore de coração humano


                                                                                   

                                                                                         




                                                                              A árvore de coração humano

                                                                    (Jaqueline Marli da Costa )
                                                                      Imagem relacionada

                     Ela era uma árvore grande, frondosa, muito velha.
          Seus galhos tortuosos, já não suportavam mais o peso das próprias folhas.
          Estava lá, na beira de uma estrada, solitária, embaixo de um Sol escaldante.
         Passava por ali um trabalhador que vinha da roça a caminho do arraial de Ponte Nova, já de tardinha. Resolveu parar para descansar um pouco e se refrescar. Trazia nas costas a velha enxada e um embornal que levara envolvendo sua marmita.
          Parou debaixo da árvore e sentou-se por entre suas raízes grossas, que saltavam ao chão.
         Recostou-se em seu tronco de cascas grossas, onde pôde perceber alguns rabiscos, feitos por outras pessoas, que algum dia, também pararam por ali para descansar. Percebeu desenhado, um coração cortado por uma flecha, um jogo da velha, uma caricatura, duas letras A x J, que indicavam uma possível paixão entre jovens.
        O homem, sem hesitar, pensou: ”Puxa, essa árvore tem história! Ela deve saber tantos segredos! Parece-me tão antiga e cansada! Mas ainda dá uma boa sombra.”
         Então se deitou para tirar um cochilo. E sonhou...
         De repente, ouviu uma voz rouca e cansada lhe chamar pelo nome:                                             __João, João, acorda!
     Olhou em volta assustado, não viu ninguém. Ouviu de novo a mesma frase. Olhou novamente e  percebeu que era a  árvore quem falava com ele.
         João, ainda meio assustado perguntou à árvore:
         _ Como posso estar ouvindo você? Árvores não falam.
         _ Mas eu sou especial e posso falar com você.
         _ Qual é a sua idade?
         _ Eu já tenho tantos anos que já nem sei mais.
         _ Parece-me muito cansada, dona árvore. Como você se chama?
       _ Me chamo Cedro, e estou muito cansada mesmo!  Já vivi tantas histórias, que minha vida, essa nem vi passar.
      _ Puxa, Cedro! Já estou velho também e me sinto tão fraco! Eu gostaria de ser como você, que não precisa nem trabalhar, mas sabe se sustentar assim mesmo.
       _ mas você é uma árvore, como eu. Quer ver?
          Eu tenho raízes que me alimentam e me sustentam. Elas me fazem ficar firmes no chão e não me envergo com os vendavais. Suas raízes  também o ajudam a sustentar-se. São suas pernas e  com elas, podes caminhar por esse mundo de Deus e buscar seu próprio alimento.
     Tenho  um caule, por onde correm as seivas, e por onde  são transportados os sais minerais e a água. Com ele sustento meus galhos, as folhas, as flores e os meus frutos. Você também tem tronco, por onde corre em suas veias, o sangue que alimenta o seu corpo. Seu tronco também sustenta seus braços, pernas e sua cabeça...
    Tenho muitas folhas, que me ajudam a respirar. Através delas, fabrico meu alimento fazendo a fotossíntese. Transformo o gás carbônico em oxigênio, para vocês respirarem e sobreviverem. Mas ultimamente, tenho respirado ar poluído, cheio de fumaça, dificultando a transformação do gás carbônico em oxigênio, que  está ficando mais escaço.
       Você tem nariz, por onde respira o oxigênio que produzo. Por isso lhe digo que não podes destruir as árvores, nem poluir os ares que nos rodeiam, pois o que vocês vão respirar sem nós?
         Eu possuo flores, que delicadamente enfeitam e perfumam o meio ambiente. Em muitas  árvores, as flores caem, viram doces e deliciosos frutos que alimentam vocês, suas famílias e os animais.
        Você com certeza floresceu ao longo de sua vida e deve ter dado bons frutos também.
        Nossos  frutos contém sementes que, quando espalhadas pelo vento e pelos passarinhos, podem ser plantadas pelas crianças ou pelos adultos e futuramente,  poderão virar novas árvores, como eu.
      E você? Onde estão suas sementes? Terão brotado em algum lugar por onde passou? Você deixou boas sementes para que dessem bons frutos? Deixou-as cair em terra boa e as cultivou ou simplesmente desanimou e deixou que o vento as levasse para lugares escuros, sem chances de brotarem? Olhe bem que suas sementes serão seus reflexos no futuro!
        A voz da árvore estava ficando baixinha, longe...
        De repente, com uma folha caída bem na ponta de seu nariz, João acordou, sentou-se e pensou nas palavras que ouvira no sonho. Pensou: “__ Puxa,que sonho mais esquisito! O que será que isso quer dizer"?
      Levantou-se, abanou a poeira, olhou para a  velha árvore, que balançava seus galhos, como se estivesse acenando para ele. Então entendeu a mensagem. Sorriu... e foi embora cultivar as sementes que ainda lhe fossem possíveis, já que estava tão velho como aquele cedro da estrada.
     “Devemos cultivar sementes boas, enquanto vida tivermos, sem desanimar. Mesmo cansados, conseguiremos vencer, se tivermos perseverança. Cultivando com amor, com certeza, ao longo de nossa vida, haveremos de colher bons frutos. Devemos não só plantar as sementes, mas principalmente cuidar, regar, revolver a terra, para que se desenvolvam e nos deem bons frutos no futuro”.
                                                                              








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